terça-feira, fevereiro 14, 2012

Olhos azuis

Quase 22 horas. Caminho, com um pouco de fome, pela Faria Lima. Minha esperança? McDonald's. Status: fechado. Próxima esperança? O Yoi. Status: encerrando as atividades do dia. Desisto de comer e me dirijo ao ponto de ônibus mais próximo. Terminal Lapa se aproximando. Reluto - não sei se quero ir pro Terminal Lapa. Penso. O ônibus para e abre a porta. Outras pessoas entram. Eu pego o ônibus.

Ônibus vazio. Entro, me sento em um banco vazio. Pego o iPod, coloco Reel Big Fish pra tocar. Tento não pensar na fome. Olho para os passageiros que sobem no próximo ponto. Olho para os passageiros que estão no ônibus. Presto atenção na música. Volto minha atenção para o banco do lado. Uma garota está dormindo. Presto atenção na música de novo. Olho pra rua. Uma padaria 24 horas. Penso em descer e comer algo, mas a preguiça não deixa. O sono começa a bater. Encosto a cabeça no vidro e acabo pegando no sono.

Acordo com um esbarrão da menina que estava sentada ao meu lado. Ela pede desculpas. Eu, ainda sem entender o que acontecia, esboço um sorriso e tento dizer um "não foi nada". Não saiu porra nenhuma. Ela levanta. Eu olho pro ônibus. Alguns passageiros desceram. A menina que dormia ainda estava lá, no lugar dela. Olho pela janela. Estou na Lapa, chegando ao terminal. Tenho preguiça de levantar do meu lugar. O ônibus entra no terminal.

Ainda tenho preguiça de levantar do meu lugar. O ônibus para. As pessoas começam a descer. Eu me levanto. Sou o último da fila pra sair do ônibus. Olho para trás, a menina ainda dorme. Ninguém a acordou? Penso. Volto pra acordá-la. Suavemente cutuco o ombro dela. Ela acorda, assustada, e se levanta. Eu dou passagem. "Olhos azuis?", penso. Não tem mais fila. Ela se vira e diz "obrigada". Eu digo "não foi nada". "Olhos azuis", confirmo. Ela desce do ônibus, vira à esquerda e começa a andar. Eu  desço do ônibus, viro à esquerda e começo a andar. Ela para e olha pra mim. Eu ando até ela e pergunto "tudo bem?". Ela tenta sorrir, e diz que é apenas um mal estar.

Eu tiro o fone de ouvido e falo pra ela se sentar. Vou até um quiosque e compro uma água. Levo a água até a garota. Abro o copo d'água e entrego. Ela agradece e bebe. Eu fico em pé, esperando ela terminar a água. Ela me olha. Azul. Algo me fascina no olhar dela - e não é só a cor. Eu me abaixo na frente dela. Ela continua me olhando. "Se sente melhor?", pergunto. "Acho que sim", ela responde. Ela tenta se levantar, mas fica meio tonta e senta de novo. "Acho que é a minha pressão", ela comenta. "Não como nada desde às 18 horas", ela completa. Eu me lembro que não comi nada desde às 13 horas.

"Não vou te largar aqui, assim", eu digo. Não sei de onde tirei a coragem de dizer isso pra uma estranha. Ela sorriu. Pergunto se ela quer um pão de queijo. Ela diz que não, que mora ali perto. Eu pergunto se ela quer pegar um táxi até a casa dela. Ela faz um sinal afirmativo com a cabeça. Eu a ajudo a se levantar. Ela agradece a gentileza. Eu vou andando com ela até o ponto de táxi mais próximo do terminal. Chegamos no ponto. Eu falo com o taxista. Ela diz onde mora. O taxista abre a porta de trás da Meriva. Ela se vira, me abraça e diz "muito obrigada". Ela entra no táxi. Eu aceno para ela. Eu começo a andar até o ponto para pegar outro ônibus.

Na minha cabeça, os olhos azuis da moça - que eu nem perguntei o nome.

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