quinta-feira, dezembro 09, 2010

Games não são arte, são... Carros

 

Parece maluco, mas deixe-me explicar!

Muito daquele velho argumento de que 'games são arte!' é baseado em uma comparação direta entre um tipo de mídia com outro. Comparações de emoções, personagens, ambientação, estilo de arte e trilha sonora de jogos com as encontradas em filmes, televisão ou até mesmo - em menor escala - quadrinhos. Isso tudo (mesmo que a TV tenha seus limites) é considerado arte, e por causa do aspecto criativo dos jogos, eles também deveriam ser considerados arte!

Mas essa é uma constatação inválida, pois nenhuma dessas outras mídias é interativa. Elas são passivas, formas de arte e/ou entretenimento que te atingem simplesmente por você sentar e assistir, ler ou escutar.. Você não interage com um filme ou uma novela. Não do jeito que faz com um game.

Então, considerar ter jogos rotulados como 'arte' no mesmo sentido em que uma novela ou ilustração é rotulada de 'arte' é um esforço fútil, porque você está tentando colocar um objeto numa categoria simplesmente baseado em coisas superficiais.

O visual de um jogo ou até mesmo sua sonorização pode ser arte, com certeza. Ou seu enredo ou ambientação, mas e o sentimento? E eu não falo dos seus sentimentos, eu falo sobre como literalmente você se sente controlando um personagem, pilotando um avião ou recarregando um rifle virtual.

Games são mais do que arte; eles também são mecânicos, algo que podemos apreciar - com certeza - mas também algo que podemos usar.

Assim como os carros.


Pense sobre isso! Um automóveil - mesmo o mais simples e barato - é um casamento (ou conflito!) entre a arte e a função. Existem engenheiros e cientistas que têm o trabalho de fazer com que o carro funcione de forma eficiente, e existem artistas e designers que têm o trabalho de fazer o carro ser bonito.

Algumas vezes os engenheiros vencem, e nós temos um carro, como o Lancia Delta - uma máquina de perfomance brilhante, mas que parece o café da manhã de um cachorro. Outras vezes, temos um carro como o Aston Martin DB9, tão bonito que pode fazer um homem chorar... E então fazê-lo chorar de novo porque não pode se andar com ele por mais de uma semana sem o carro quebrar.

Você não pode ter um sem o outro. Uma carroceria bonita - como aquelas dos screenshots do Gran Turismo 5 - sem um motor ou transmissão simplesmente não é um carro. Um motor com uma transmissão parafusados em uma carcaça sem uma carroceria também não é um carro. Apenas quando as duas coisas se juntam é que temos o produto final.

Games funcionam da mesma forma. Você pode ter toda aquela arte, celebridades dublando, músicas tema ou gestos poéticos, mas se você não interagir com eles, não é um game. É simplesmente... Uma coleção de várias peças de mídia. Da mesma forma, a mecânica de um game, ou o design de seus níveis e sua dificuldade não são nada mais do que uma coleção intangível e irreconhecível de 0s e 1s sem um personagem e ambiente para encaixá-los, ou um enredo para dar propósito e conteúdo.

Carros também são um grande exemplo de como as pessoas priorizam seu gosto com um produto. Eu, por exemplo, nunca compraria um carro feio. Nunca. Mas é o meu jeito. Meu pai, por outro lado, compraria um cubo cor de rosa que anda, desde que fosse seguro e econômico.

Aqui os games também tem suas similaridades. Alguns, como Assassin's Creed, tem uma apresentação impecável, e alguns outros, como Dwarf Fortress, que não ligam para sua aparência, desde que tudo funcione bem. Uma Ferrari é um carro caro e bonito. Um Toyota Corolla é um carro barato e normal. Alguns gamers apreciam uma Ferrari, outros apreciam um Toyota.


Essa é uma forma direta com que os outros tipos de 'arte' não podem confrontar. Sua apreciação por um filme no cinema não vai ser afetada pela maneira que você a usa, não importa o quão difícil seja assistir o filme. Se o filme é difícil de assistir, bom, é porque o criador quis assim e talvez não seja feito para você. Da mesma forma, a maneira com a qual um quadro é visto por um público não deve ser um incomodo ao artista, porque eles criam arte, e não um produto ou serviço.

Entretanto, se um game for difícil de controlar, ou não funcionar? Se o personagem que você deveria fazer andar por diversas pequenas plataformas não for programado adequadamente, nem testado? Os outros fatores de um jogo -é 'arte' - são para mentirosos, porque não importa o quão bonito seja o jogo, você vai parar de jogar. Assim como um carro, o carro vai, simplesmente, quebrar.

Assim como nos carros, a 'arte' dos games é na maioria (não em todos) dos casos um luxo, disponível apenas quando a mecânica - um termo anti-artístico - está em ordem. E eles só podem ser aplicados em um jogo - essa série de regras, números e programação - se existir um jogo ao qual essa mecânica pode ser aplicada, caso contrário aquelas belas imagens são belas de maneira vaga, não como parte de um trabalho completo.


Não há dúvidas quanto à arte que pode ser encontrada nos carros. No design de uma carroceria, o espaçamento do interior, a curvatura dos assentos. Mas você chama carros de arte? Não, você não chama. Você os chama de carros, porque é o que eles são, e você deixa eles assim: uma coisa que casa forma e função em um pacote.

Seria maravilhoso se as pessoas fizessem a mesma coisa com games. Com certeza nos pouparia de analisar a mente dos outros e também não nos causaria angústia.

Créditos:
Artigo originalmente publicado por Luke Plunkett, do portal Kotaku.com;
Imagens do fórum do GTPlanet, também apresentadas no artigo original;
e tradução livre feita por mim, Bruno Massao. :)

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